DIOCESE DE INHAMBANE
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INHAMBANE-MOÇAMBIQUE
+Adriano Langa, OFM
Bispo de Inhambane
Às Comunidades cristãs da nossa Diocese
Estimados Sacerdotes, Pessoas Consagradas, Às Comunidades cristãs da nossa Diocese,
Aos Governantes, aos Lideres dos Partidos políticos, de Inhambane,
A todos os Homens e Mulheres da boa vontade:
Que a Paz do Senhor volte aos nossos coração, aos lares e lugares de trabalho, que a Paz volte aos nossos caminhos e em todo o nosso País, donde foi expulsa com os acontecimentos dos últimos tempos de ameaças, da violência, de mortes e destruições.
No passado mês de Abril do ano em curso nós Bispos católicos de Moçambique escrevemos uma Nota Pastoral, aos governantes, dirigentes dos Partidos políticos e a todo o Povo moçambicano, fazendo apelo para que se pusesse fim às ameaças verbais, à violência, que já tinha provocado vítimas, danos materiais e dizíamos: “NÃO À VIOLÊNCIA, NÂO À GUERRA”. Mas, infelizmente, verificamos que essa voz e muitas outras que se fizeram e ainda se fazem ouvir soaram no deserto, pois, de lá para cá, temos sido confrontados com declarações expressas ou camufladas de guerra, com mortes de inocentes, de indefesos e com destruições de bens.
Hoje e aqui, no nosso ministério de sentinelas, sendo necessário continuar a gritar, nada de melhor e de novo temos para dizer senão repetir e relançar a voz dos Bispos do Povo moçambicanos e de muitos outros. “NÃO À VIOLÊNCIA, NÃO À GUERRA”, não aos discursos que gotejam ódio, que espirram sentimentos de intolerância, que sugerem a violência. Mas, então, onde está e o que é feito da “nossa capacidade de diálogo”, que até há bem pouco tempo constituía a nossa bandeira e o nosso orgulho como Povo? Não ao cinismo, não aos rostos impávidos, a traduzirem insensibilidade, porque são um insulto à gente que sofre no espírito e na carne, porque ferido de morte e se sente objecto e vítima de disputas de ambições!
Que não se confunda a VIDA com quaisquer outros valores. Por isso, nós pomos a VIDA à direita e outros valores, sejam quais eles forem, à esquerda. Não há nada que sirva de alternativa à VIDA, porque esta é sagrada. Se os políticos têm alguma coisa a disputar ou a discutir, que o façam sem que isso pese sobre o povo e provoque perda de vidas humanas. Todos amamos a VIDA e cada um procura conservar aquela que está em si. Ninguém deve presumir ter poder sobre a VIDA dos outros e contribuir para a sua destruição, seja qual for o pretexto.
Saímos de uma guerra que não teve vencedor, será que uma nova guerra teria vencedor, ou seria para morrerem inocentes e, depois, tudo acabar à volta de uma mesa de conversações e acordos? Lembremos que atrás deixamos quase um milhão de mortos e destruições, que hoje nenhum dos beligerantes assume!
Desde da Independência e mesmo antes desta, os moçambicanos construíram e lançaram-se a produzir, mas a Guerra dos 16 anos viram o seu suor a ir pela terra abaixo e, hoje ninguém assume e muito menos ainda pedir desculpas! Veio a paz (ou trégua?), o mesmo Povo tratou de limpar as lágrimas e arregaçou as mangas para construir e produzir. É consolador sermos surpreendidos, hoje, por casas lindas e confortáveis em sítios de difícil acesso e por empresas prometedoras. Mas o horizonte político-militar dá entender que querem nos ver a fugir, de novo, para o mato, para ficarem a saquear e a destruir. A Comunidade internacional disponibilizou fundos para reconstruir e desminar o País, ainda o trabalho não terminou mas, com as movimentações bélicas em curso, muito provavelmente, o País estará sendo minado de novo!
Que se escute o grito do Povo: “NÃO À VIOLÊNCIA, NÃO À GUERRA.” Se não estiverem interessados, não pedimos sacos ou carradas de comida, mas que nos deixem em paz, para produzirmos mandioca, milho, feijão, mapira…; não pedimos que nos dêem carros, mas que não destruam os nossos carros, de terceira ou quarta mão (recuperados); não pedimos que nos façam reis nem príncipes, mas que nos deixem viver!
Mas cada um de nós é responsável pela paz e cada um tem alguma coisa a fazer em favor da mesma. Por isso, para evitar a violência e a guerra, que cada um evite alimentar sentimentos de ódio e de intolerância em relação ao outro; que cada um evite tendências políticas desequilibradas e emocionais, mesmo na forma mais escondida; que ninguém alimente guerras silenciosas no seu coração. Não sejamos politiqueiros, certos de que muito pouco ou nada da verdade dos políticos sabemos.
Pelo contrário, nós, vossos sentinelas, que nos pedis para gritar, com mais força, contra o fantasma da guerra, nos voltamos, também, para vós e vos pedimos para orardes pela paz; encheis os vossos corações não de sentimentos de ódio, mas estejam cheios de sentimentos de fraternidade e de ternura; que dos vossos corações não se elevem chamas de ódio, mas de amor ao próximo; que cada um seja ma pedra para a construção da paz, e não para atirar contra o outro. Cantemos com S. Francisco de Assis: “Senhor, fazei de mim um instrumento da vossa paz”.
Inhambane, 30 de Junho de 2013